sábado, 15 de junho de 2019

Breve história

Nada que o dia mais azul e o céu mais brilhante possam clarear que as atitudes de homem não estragam.

Eis uma história:

          Depois de muito sofrer, todos estão cansados e famintos de felicidade e paz. Um dia, foi prometido a certeza de dias melhores depois dos anos de guerra. Mas o homem havia dito que para isso a confiança em um futuro melhor era necessário. Então todos os sobreviventes largaram seus escudos de guerra e abraçaram o homem que lhes prometeu a felicidade.
          O homem, depois de ver que conquistou a confiança de todos, matou um por um com uma faca apunhalada nas costas. O sangue de todos saíram vermelho-vivo e tão líquido quanto a água.
          No mesmo instante da morte coletiva, os guerreiros levantaram sem sangue nenhum no corpo e passaram a vagar pela terra em busca da tão sonhada paz. O sangue no chão, transformou-se em uma imensa poça de água negra tão espessa e densa que tragou o homem traidor afogando-o com o passar do tempo.

Moral: os homens traídos não tiveram a felicidade e o traidor não teve a vitória.

A pedra escarlate

Todos nós temos nossos problemas. Entretanto, saturamos nossa importância no mundo. Sabendo disso, leia:

          "Nada mais valioso que essa pedra de rubi!" - disse o rei daquelas terras.

          Ele era muito orgulhoso pelo patrimônio que construiu para a sua família roubando, mentindo e usando de artifícios que ultrapassavam a honra. Não teria sido diferente com aquela joia que possuía nas mãos: enganou uma jovem moça que portava a pedra como única riqueza para criar o filho; disse que trocaria por algumas centenas de dinheiro e apenas fugiu deixando a mãe aos prantos.
          "Tão bela e tão formosa és que será o símbolo do meu reino" - disse animado já pensando em decorar o castelo inteiro combinando com a cor da pedra.
          Foram cobrados impostos caríssimos para trocar todas as bandeiras, brasões, estátuas e afins. As pessoas do reino foram acometidos por uma epidemia fatal de fome e miséria. Ninguém possuía comida alguma e com o estômago vazio perderam a visão e a vontade de viver.
          O rei, apreciando uma tarde de domingo, resolveu conferir o reino e sua reforma em homenagem ao rubi e pôs-se a andar adornado da pedra como colar. Conforme passava pelas ruas, estufava o peito para gabar-se do vermelho-sangue vitorioso com o qual ostentava sua riqueza, porém, ninguém nem ao menos notou a presença do rei. 
          Estavam ocupados demais sofrendo pela pobreza e pela falta de visão que não se curvaram a majestade. O rei, furioso com aquela ignorância, questionou um dos aldeões:
          "Por que não contempla minha preciosidade?" - levantou o pobre homem pela goela.
          "Minha fome não vadia com seu egoísmo" - respondeu engasgado o mendigo.
          O rei soltou-o e prosseguiu seu caminho rumo ao pôr do sol avermelhado.

Verdade apaixonante

           Afrodite, deusa do amor, perdeu todos os seus poderes um certo dia, pois deixou de acreditar em si mesma.
           Ela foi tomada por uma melancolia e um medo da solidão imensurável. Passou dias afinco pensando que todos mereciam a felicidade, menos ela. Sua existência não possuía mais sentido e ela afundou-se no vazio.
           Após tempos de tristeza e escuridão, Afrodite encontrou uma feiticeira que disse ser capaz de ajudá-la. Ela prometeu à Afrodite que recuperaria seus poderes e a tornaria mais forte que nunca. Desesperada por uma solução, Afrodite questionou o que deveria ser feito para tal milagre e a feiticeira respondeu apenas que “a sinceridade sempre é o suficiente para mudar o mundo”. Sacou um espelho ovalado de sua bolsa misteriosa e apontou para a deusa. No mesmo instante, o céu tingiu de um azul claro e as nuvens escuras dissiparam todo aquele vazio.
           Afrodite foi capaz de apaixonar-se por si novamente e suas dúvidas foram sanadas. Agora ela conhecia suas qualidades e defeitos, todas mostradas por um pedaço de vidro reluzente, que apenas dizia a verdade.

Vida vazia

O mundo roda
O quarto sufoca
Nem tudo são rosas
Sonhos mil

Presença esperada
Lágrimas derramadas
Alma solitária
Vida hostil

Descanso eterno
Mundo incerto
Abraço materno
Morte gentil